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Nos tempos modernos são muitos os nossos ídolos da cozinha. No entanto, quando penso na minha infância lembro-me das mãos enrugadas da minha avó amassando com carinho e determinação as filhoses, estendendo a massa dos rissóis e atirando com genica a abóbora gila ao chão. Nessas mãos começava a minha paixão pela cozinha. Para quem é criança, assistir com atenção a um cozinhado de avó é como ver magia em primeira fila, com direito a recompensa gulosa da primeira prova (e algumas provas repetidas a dedo, sempre quando a avó virava costas).
Para além destas memórias caseiras, recordo-me de ver na televisão aquela senhora sempre impecavelmente penteada, com ar despachado, voz doce mas segura de si, ensinando-nos a cozinhar de forma fluida e descomplexada. Hoje li que Filipa Vacondeus não gostava que a chamassem Chef, apesar dos muitos livros publicados e das suas participações televisivas. Esta senhora foi uma autodidacta que partilhou connosco muitos sabores, ensinando com os valores de quem cozinha com coração, sem pretensões de títulos e antes com preocupação de evitar o desperdício.
O mundo da cozinha portuguesa ficou hoje triste com a sua perda. Mas a minha geração recordará para sempre esta querida Senhora, com o mesmo respeito de quem admira um verdadeiro Chef, pois a autenticidade dos saberes também se atinge quando nos chegam da boca ao coração.
Descanse em Paz querida Filipa
Eu e o Francisco somos amantes das feirinhas e vibramos com as músicas do Tony Carreira que se ouvem nos altifalantes, interrompidas pela senhora dos carrinhos de choque que grita para alguém rodar o volante ou por a ficha para mais uma voltinha.
Todos os anos ficamos animados com a "nossa" Feira de Oeiras e desejosos para descobrir se há novos carrosséis, apesar de sermos fãs fieis dos clássicos carrinhos de choque e das chávenas que giram no mesmo carrossel de há anos e anos.
Há coisas que não mudam.... desde pequena me lembro dos rapazes que trabalham nos carrinhos de choque e conduzem sentados nos encostos e não nos bancos, com um ar de "sou muito mau e não se metam comigo que ando nisto todos os dias". A cada paragem a criançada salta e roda maluca e ouve-se sempre a birra da menina que queria o carro cor de rosa ou do menino que queria a mota e já está ocupada! Mas assim que se inicia nova voltinha, já está tudo a postos para novos embates!
No carrossel é assistir aos paizinhos a dar indicações para os filhos não se largarem e os putos acenam delirantes enquanto lhes tiram as fotos para mostrar aos avós... e há sempre aquele que chora com medo enquanto outro grita por mais velocidade.
Este ano a feira tem uma mini montanha russa que parece construída nos anos 70. O Francisco não teve medo nenhum e eu ao lado gritava a rir de nervoso com receio que algum parafuso ou ferro saltasse! A montanha russa não tem descidas, loopings, nem rapidez alucinantes mas o barulho dos carris tão gastos dão mais adrenalina que qualquer diversão dos parques famosos. Tenho mesmo de aproveitar enquanto o Francisco gosta que o acompanhe e ainda não tem vergonha dos gritos risos da Mãe. O Pai delicia-se a assistir sossegado ao espectáculo dos nossos gritos.
Tanta agitação provoca fome e no ar mistura-se sempre o aroma do açúcar do algodão doce, com os óleos das farturas e fumos das sardinhas. Ir à feira uma só vez não chega. É que posso "matar a fome" rapidamente das diversões, mas não tenho estômago para de uma vez só satisfazer os desejos das farturas, pipocas algodão doce, pão com chouriço quente acabado de sair do forno, caracóis, bifanas! Temos de lá voltar!
Tenham cuidado é com os roubos! Um balão = 5 euros senhores! Um escândalo! Mas enfim, o balão tem sido a maior diversão do Manel lá em casa que adora passear o balão e tentar "morde-lo" sempre que o Francisco está mais desatento. Gosto de ver o ar satisfeito do Francisco a sair da feira agarrado ao seu balão, igual ao meu ar feliz agarrada a um manjerico e aos sacos de biscoitos de erva doce e limão!
Vivam os Santos!
No fim de semana passado aproveitámos as tréguas da chuva para visitarmos o Palácio Nacional de Queluz.
A cerca de 15 minutos de casa encontrámos um Palácio praticamente vazio de visitantes, o que nos permitiu desfrutar do passeio como se tudo estivesse à nossa única disposição.
O Francisco (e nós também, confesso) encantou-se com os lustres no tecto, maravilhado com a grandeza e imponência das decorações. Passados 5 minutos de entrarmos já me deliciava com o cheiro da cera que envernizava os soalhos e me faz sempre associar esse perfume ao da história dos palácios e museus antigos.
Tudo foi motivo de perguntas e de exclamações, desde as caminhas e berços dos príncipes e princesas, às loiças e porcelanas, coches e talhas douradas. Depois de tantas histórias contadas sobre príncipes e princesas, o Francisco nem queria acreditar que estava mesmo a admirar um Palácio de verdade... repetindo tantas vezes, se eram mesmo ali que comiam, dormiam ou brincavam.
Sem dúvida que as caminhas e berços foram as suas predilecções (logo inventando qual seria a sua cama, a do Manel e a das primas).
Ao almoço fomos tratados como príncipes no restaurante Cozinha Velha, instalado nas antigas cozinhas do Palácio e que integra a Pousada de Queluz - D.ª Maria I (Pousadas de Portugal). Assim foi possível não quebramos o ambiente e o Francisco até ficou convencido que a sua sopa teria sido confeccionada numa das grandes panelas de cobre ali expostas.
Da parte da tarde digerimos o almoço pelos jardins. Depois de 15 dias fechado em casa com gripe, o Francisco teve oportunidade de correr por todo o lado, de fonte em fonte, estátua em estátua, labirinto em labirinto, sempre perseguido pelos risos do Manel. Qualquer dia regressamos para assistir a exibição de falcoaria.
Para quem tem filhos pequenos que deliram com as histórias de principes e princesas, aqui fica uma sugestão de passeio em família, tão perto de casa.
Fiquei a namorar esta peça para pôr cupcakes lá em casa...
Sempre que passeamos no Chiado sentimo-nos mais portugueses a cada pisar da calçada cruzada com a passagem dos eléctricos.
A cidade tem ali a energia especial das pessoas que a vagueiam a pé em admiração das compras entre pausas nos cafés.
Neste embrenhado de ruas encontrámos a loja A Vida Portuguesa. Assim que subimos o degrau de entrada regressámos ao passado, sem máquinas de tempo nem efeitos especiais. Nesta loja é possível encontrar produtos antigos genuinamente portugueses, fieis à produção original e às nossas memórias.
É impossível não exclamar e apontar o dedo a quase tudo o que nos traz recordações já meio perdidas mas de imediato salvas e reavivadas:
Alegria olhar para as sobrinhas de chocolate Regina e pastilhas Gorila!
E, no meio de tanta coisa, reencontrar as latinhas de limpa metais coração (e por segundos sentir o cheiro do produto nos panos esfregados nos pratos dourados da casa da minha Mãe).
E para meu grande espanto reencontrar cadernos e brinquedos de antigamente, tão bonitos e descomplicados.
Neste entusiasmo, rendi-me perdidamente às andorinhas de cerâmica Bordallo Pinheiro. Desde pequena, sempre supus serem mais felizes as casas brindadas com estes pássaros primaveris.
Assim, e em menos de nada comprei um bando de andorinhas (para grande euforia do Francisco que até me pedinchava andorinhas para o seu quarto).
Entretanto estudo a forma de as pendurar no hall de entrada cá de casa, em sinal de boas vindas e de bom tempo.
Aqui ficam algumas inspirações para o "projecto andorinha".
PS- talvez tarde em dar-vos notícias sobre o resultado... não sou muito jeitosa com pregos e martelos. Deadline do projecto: início da Primavera para ser optimista!
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