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Nos tempos modernos são muitos os nossos ídolos da cozinha. No entanto, quando penso na minha infância lembro-me das mãos enrugadas da minha avó amassando com carinho e determinação as filhoses, estendendo a massa dos rissóis e atirando com genica a abóbora gila ao chão. Nessas mãos começava a minha paixão pela cozinha. Para quem é criança, assistir com atenção a um cozinhado de avó é como ver magia em primeira fila, com direito a recompensa gulosa da primeira prova (e algumas provas repetidas a dedo, sempre quando a avó virava costas).
Para além destas memórias caseiras, recordo-me de ver na televisão aquela senhora sempre impecavelmente penteada, com ar despachado, voz doce mas segura de si, ensinando-nos a cozinhar de forma fluida e descomplexada. Hoje li que Filipa Vacondeus não gostava que a chamassem Chef, apesar dos muitos livros publicados e das suas participações televisivas. Esta senhora foi uma autodidacta que partilhou connosco muitos sabores, ensinando com os valores de quem cozinha com coração, sem pretensões de títulos e antes com preocupação de evitar o desperdício.
O mundo da cozinha portuguesa ficou hoje triste com a sua perda. Mas a minha geração recordará para sempre esta querida Senhora, com o mesmo respeito de quem admira um verdadeiro Chef, pois a autenticidade dos saberes também se atinge quando nos chegam da boca ao coração.
Descanse em Paz querida Filipa
No fim de semana fiz pela primeira vez uma pavlova. Para quem não conhece é uma sobremesa em que a base é um suspiro gigante, levando por cima uma camada de chantilly e frutas. Um pecado irresistível. Não ficou perfeita, preciso tentar ajustar melhor a receita. De qualquer forma, não sobrou nada o que me incentiva a aprimorar o doce.
Enquanto cozinhava, lembrava-me que esta é uma das sobremesas preferidas da minha irmã do meio que está noutro Continente distante.
A comida traz-me recordações de infância (dos tempos em que com 4/5 anos já aprendia a cozinhar com a minha Avó) e memórias de amigos e família que estão longe. Não há vez que prepare uma mousse de chocolate sem me lembrar da minha Avó que está no céu. Ou que pense em tarte de leite condensado sem me lembrar da Katucha ou da Fatty. O rolo de carne é o da Madrinha e quando escuto alguém falar em bimby os meus pensamentos estão nas minhas primas e cunhada. Não há tarte de maçã melhor do que a da minha Mãe. E que saudades dos caracóis do Pai da Filipa. Mais recentemente Fondue tornou-se sinónimo de casa dos Malatos. E assim vou catalogando as comidas com os nomes e lembranças da família ou dos amigos.
Mas há um problema grave, gravíssimo. Eu só não gosto de dobrada, sardinhas e pés de porco (ok insectos também se formos "chiques" e pensarmos em cozinha internacional). De resto, adoro tudo. Podia ser esquisita e ter uma figura de meter inveja. Mas gosto tanto de comida que sou capaz de fazer quilómetros só para ir comer ao restaurante X ou Y. Nas férias sou menina para acordar com o despertar dos miúdos na hora em que o galo canta e ponderar ir para a praça ou mercado pela fresquinha tentar encontrar lingueirão para um arroz malandro! Pensar no jantar antes mesmo de tomar o pequeno almoço é capaz de não ser normal.
E já ando em pulgas ansiosa pelo Mundial! Não que conheça de cor todos os jogadores da selecção e que consiga assistir aos jogos concentrada (depois de ter miúdos é uma sorte se me aperceber do resultado assim que o jogo acaba - às vezes só me lembro de perguntar no dia seguinte o resultado do jogo que supostamente assisti). Mas é uma excelente desculpa para nos reunirmos em roda da mesa televisão a petiscar!
Eu sou assim, bato com a mão no peito e me confesso a pecadora das mais gulosas!
Mais alguém se confessa?
Ingredientes:
Ponham todos os ingredientes ao lume (à excepção das pêras) numa panela suficientemente grande para alojar depois as 6 pêras e mexam com carinho para saborearem os aromas que se vão soltando.
Pouco antes de a calda levantar fervura, coloquem então as pêras gentilmente descascadas.
A partir daqui podemos contar 15 minutos ou 30 minutos (depende se as pêras estão muito verdes ou já quase maduras).
De vez em vez rolem as pêras para que "tomem um banho de imersão" uniforme e ganhem cor por toda a superfície.
Quando sentirem as pêras já macias retirem-nas do lume e reserve. Deixem apurar a calda numa redução que no final deverá regar as pêras.
Espero que gostem. Se gostarem partilhem comigo, prometem?
Hoje é dia de contrariar este frio
Com este calor bom do forno que nos aquece a casa
De chocolate como não podia deixar de ser
Aqui fica a sugestão:
Funciona em dias de grande confusão no shopping como uma perfeita alternativa à trela! Conseguir estacionar lá fora já foi uma prova superada, mas sobreviver aos corredores apinhados de gente apressada foi apenas o chegar ao próximo nível cheio de obstáculos.
Nestas últimas corridas das compras, conseguimos literalmente "furar" a multidão para o Francisco passar, com o benefício de não o perder. Hoje só lhe repetia, "Francisco mãozinhas para dentro do carro filho" e lá fomos nós despachar as últimas compras!
Francisco feliz = Mãe Feliz :)
No regresso a casa visitámos a minha Madrinha...que bem sabem estes beijinhos de Boas Festas entregues à família, sentindo o rebuliço dos preparativos na cozinha e dos últimos embrulhos.
Esta noite o Francisco abriu a penúltima porta do calendário do advento e quase fiquei nostálgica... Nem acredito que este ano nos vamos sentar todos à mesa, saborear as delícias combinadas, rezarmos ao menino Jesus e brindarmos o Pai Natal que aparecerá de surpresa! E o que eu adoro descair-me sobre os amigos secretos das prendas (perante a crise optámos por este sistema entre adultos da família).
Este ano não me importa nada se a sericaia que vou testar amanhã pela primeira vez no meu forno racha ou não. Se o bacalhau é cozido ou assado. Estou feliz por estarmos em casa e vamos comemorar isso mesmo!
Feliz Natal a todos!
Na contingência da antecipação da cirurgia do Manel, improviso um jantar familiar em casa para tentar descomprimir as incertezas e melhor digerir a espera em companhia.
Pouco prudente e iluminada, optei por encomendar comida indiana e tomar um comprimidinho de protecção gástrica convencida que o mesmo me ajudaria a passar ilesa nessa batalha gastronómica, saudosista da minha vesícula que já não mora em mim.
O forte tempero que decidi dar à minha noite de sexta feira aliado à ansiedade por qualquer chamada de check in no Hospital de São Francisco cozinharam-me um fim de semana verdadeiramente bombástico.
Sábado à noite, fui levada pelo Maridão para a urgência da CUF. Esperei, esperei e continuei a esperar, com sobressalto a cada toque das senhas, rosnando quando via alguém entrar com aspecto clinicamente mais saudável que o meu. Nestas circunstâncias, e apesar da fraqueza, apodera-se de mim o que há de mais ruim. Não obstante chegar ali por culpa própria e não vítima de qualquer maleita alheia à minha vontade, sinto-me no direito de ser imediatamente atendida e posta a soro, porque aguentar uma gastroentrite em apenas metro e meio de gente (de vesícula amputada), deveria dar direito a entrada imediata sem parar na casa partida.
Que infelicidade e fraqueza a minha, o meu Cunhado também abusou da especialidade Goense (tanto ou mais que eu), mas tem cerca de metro e oitenta de altura que revestem a sua vesícula, pelo que se aguentou “como gente grande”.
A Médica, perspicaz, na triagem, não esteve para grandes conversas e topou logo a cena:
Mulher de 32 anos, com gastrite crónica, sem vesícula, em estado de ansiedade, ingeriu comida indiana (como se eu me tivesse deliberadamente intoxicado ou drogado!). Dirigiu-me então aquele olhar de quem abana a cabeça a uma menina mal comportada, passando-me nessa expressão um atestado de estupidez e ordem para ficar num cantinho a soro, de castigo pelo meu crime alimentar.
Era uma e meia da manhã e o Maridão, sem me condenar pelo disparate, dá-me amorosamente a mão no regresso a casa para me reconfortar da espera e reprimenda médica, apenas referindo em tom paternal “tens que ter mais cuidado”. Enquanto me lembrar desta, descansa que vou ter mais cuidado para não passarmos o serão de Sábado na urgência… até ouvi dizer que há sítios tão ou mais apinhados de gente com melhor disposição e aspecto mais saudável.
No dia seguinte, a Mamã faz-me canjinha e felizmente ninguém chama este caco para o Hospital.
Bato 3 vezes com a mão no peito assumindo a culpa do disparate, tendo já sofrido a penitência nos efeitos secundários.
Mas deste breve episódio indiano na minha vida é possível retirar alguma boa moral (de notar que apenas hoje sou capaz de tal exercício, porque no Sábado só conseguia retirar de mim vomitados e afins):
Nos próximos dias a comida do Hospital até me vai saber a Pato! Irra!
Chegando o tempo de Outono (ok está imenso calor e Sol mas eu tenho as crias de quarentena em casa) gosto muito de me entreter na cozinha a fazer bolos com a ajuda do Francisco.
Tendo uma criança impaciente cujos olhos giram mais rápido do que a própria batedeira, tento desembaraçar-me com receitas mais fáceis, sem necessidade de pesar ingredientes ou bater separadamente claras em castelo (até porque o Francisco ia dizer que aquele monte de espuma branca não era nada parecido com um castelo e há alturas em que já nem sei como explicar os porquês do rapaz).
Lembro-me que em criança também era assim, uma vigilante da batedeira, sempre de dedinho em riste para tentar fazer uma prova à socapa, implorando para despejar qualquer coisa lá para dentro e no final, tratar da limpeza da taça. Pois que agora me sai na rifa um mini eu ainda mais refinado e com uma confiança de Mestre Silva.
Conseguir enfiar o bolo no forno com o Francisco dentro da cozinha é como superar uma prova de salto em barreiras. Depois da limpeza geral (encarregando-se o Francisco de uma rigorosa pré lambuzagem lavagem da taça) vamos os dois espreitando a porta do forno para ver se a nossa criação cresce, sendo que o rapaz adora tentar convencer-me que passados 10 minutos o bolo está pronto ou que aquele afinal não deve estar bom porque não cresce.
Como quem espera sempre alcança, o momento da retirada do bolo do forno é outra etapa solene de elevada supervisão infantil, misturada com ameaças maternais que não come nada se não se afasta e que se pode queimar, tanto mais que já torrou o juízo quando lhe explico mil vezes que o bolo quente faz mal à barriga.
Finalmente, na hora saborear as fatias, o Francisco exclama como o bolo dele está muito bom, fazendo-me sorrir das suas delícias.
Apesar de parecer tarefa arriscada e perigosa, gosto tanto de partilhar este momento com o Francisco, encher a casa com o aroma destas doçuras de Mãe e Filho (que tanto agradam ao Pai) e saborear os restinhos do bolo do “fim-de-semana” nos serões da nossa semana.
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