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Na contingência da antecipação da cirurgia do Manel, improviso um jantar familiar em casa para tentar descomprimir as incertezas e melhor digerir a espera em companhia.
Pouco prudente e iluminada, optei por encomendar comida indiana e tomar um comprimidinho de protecção gástrica convencida que o mesmo me ajudaria a passar ilesa nessa batalha gastronómica, saudosista da minha vesícula que já não mora em mim.
O forte tempero que decidi dar à minha noite de sexta feira aliado à ansiedade por qualquer chamada de check in no Hospital de São Francisco cozinharam-me um fim de semana verdadeiramente bombástico.
Sábado à noite, fui levada pelo Maridão para a urgência da CUF. Esperei, esperei e continuei a esperar, com sobressalto a cada toque das senhas, rosnando quando via alguém entrar com aspecto clinicamente mais saudável que o meu. Nestas circunstâncias, e apesar da fraqueza, apodera-se de mim o que há de mais ruim. Não obstante chegar ali por culpa própria e não vítima de qualquer maleita alheia à minha vontade, sinto-me no direito de ser imediatamente atendida e posta a soro, porque aguentar uma gastroentrite em apenas metro e meio de gente (de vesícula amputada), deveria dar direito a entrada imediata sem parar na casa partida.
Que infelicidade e fraqueza a minha, o meu Cunhado também abusou da especialidade Goense (tanto ou mais que eu), mas tem cerca de metro e oitenta de altura que revestem a sua vesícula, pelo que se aguentou “como gente grande”.
A Médica, perspicaz, na triagem, não esteve para grandes conversas e topou logo a cena:
Mulher de 32 anos, com gastrite crónica, sem vesícula, em estado de ansiedade, ingeriu comida indiana (como se eu me tivesse deliberadamente intoxicado ou drogado!). Dirigiu-me então aquele olhar de quem abana a cabeça a uma menina mal comportada, passando-me nessa expressão um atestado de estupidez e ordem para ficar num cantinho a soro, de castigo pelo meu crime alimentar.
Era uma e meia da manhã e o Maridão, sem me condenar pelo disparate, dá-me amorosamente a mão no regresso a casa para me reconfortar da espera e reprimenda médica, apenas referindo em tom paternal “tens que ter mais cuidado”. Enquanto me lembrar desta, descansa que vou ter mais cuidado para não passarmos o serão de Sábado na urgência… até ouvi dizer que há sítios tão ou mais apinhados de gente com melhor disposição e aspecto mais saudável.
No dia seguinte, a Mamã faz-me canjinha e felizmente ninguém chama este caco para o Hospital.
Bato 3 vezes com a mão no peito assumindo a culpa do disparate, tendo já sofrido a penitência nos efeitos secundários.
Mas deste breve episódio indiano na minha vida é possível retirar alguma boa moral (de notar que apenas hoje sou capaz de tal exercício, porque no Sábado só conseguia retirar de mim vomitados e afins):
Nos próximos dias a comida do Hospital até me vai saber a Pato! Irra!
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