Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Nos tempos modernos são muitos os nossos ídolos da cozinha. No entanto, quando penso na minha infância lembro-me das mãos enrugadas da minha avó amassando com carinho e determinação as filhoses, estendendo a massa dos rissóis e atirando com genica a abóbora gila ao chão. Nessas mãos começava a minha paixão pela cozinha. Para quem é criança, assistir com atenção a um cozinhado de avó é como ver magia em primeira fila, com direito a recompensa gulosa da primeira prova (e algumas provas repetidas a dedo, sempre quando a avó virava costas).
Para além destas memórias caseiras, recordo-me de ver na televisão aquela senhora sempre impecavelmente penteada, com ar despachado, voz doce mas segura de si, ensinando-nos a cozinhar de forma fluida e descomplexada. Hoje li que Filipa Vacondeus não gostava que a chamassem Chef, apesar dos muitos livros publicados e das suas participações televisivas. Esta senhora foi uma autodidacta que partilhou connosco muitos sabores, ensinando com os valores de quem cozinha com coração, sem pretensões de títulos e antes com preocupação de evitar o desperdício.
O mundo da cozinha portuguesa ficou hoje triste com a sua perda. Mas a minha geração recordará para sempre esta querida Senhora, com o mesmo respeito de quem admira um verdadeiro Chef, pois a autenticidade dos saberes também se atinge quando nos chegam da boca ao coração.
Descanse em Paz querida Filipa
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.