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Nos dias que antecedem o dia da Mãe sinto uma energia secreta na escola. São apenas para já visíveis os avisos de horários das diferentes salas para receberem as Mães numa actividade especial.
Mas sabemos que andam em sigilo de mãos à obra a preparar os presentes mais queridos para oferecerem às Mães.
Hoje o Francisco chegou mais tarde à escola e fui literalmente barrada à entrada da sala pois os artistas já estavam em pleno processo de laboração dos presentes.
Todos estes preparativos são especiais. Principalmente porque o Francisco adora o suspense da não revelação do segredo. Já tentei desvendar e pedir pistas mas incrivelmente o rapaz não cedeu à tentação e replicou-me que teria de esperar pelo grande dia. Não resisto a tentar saber o quê nesta batota inocente. Pareço uma criança a tentar descolar à socapa a fita cola dos presentes de Natal escondidos debaixo da cama dos pais. Até a educadora do Manel me falou da prenda que será feita pelo Manel (sublinho porque será um grande feito). Ficará atrasada pelas faltas febris desta semana, mas seja em que dia for há uma lembrança que será a primeira de muitas. Nem a do Manel consegui ainda topar o que será... apesar de conversar com educadora sempre com olho no redor da sala.
O Francisco sente-se muito importante neste papel de filho dedicado e artista e eu sinto-me no pedestal das Mães. Se o dia da Mulher passa sem grande pompa e circunstância, o dia da Mãe é uma alegria desenfreada. Não era uma pessoa de choro fácil mas dou por mim de lágrima no olho nas actividades escolares. Gente pequena facilmente me faz chorar comovida (mesmo que estejam a cantar alegres ou a representar alguma comédia). É inevitável tirar mil fotos meias tremidas com desculpa dos olhos húmidos que nem me deixam ver com nitidez. Se agora é assim imagino se um dia o Francisco casar... nesse dia vou chorar com ranho e tudo.
Depois no Domingo será certamente combinado um almoço das matriarcas da família. Com a minha Avó, Mãe e eu com as minhas crias. São muitas flores que se juntam e muitos parabéns cruzados.
Neste dia também me lembro da Mãe do Maridão. Há um vazio grande para aqueles que não têm Mãe e não se escapam aos dias dedicados a quem partiu. Se no dia do Pai posso tentar focar-lhe as atenções no facto de o Maridão já ser pai de dois, no dia da Mãe é diferente. Há um vazio insuperável. Pois que mais vale não tentar disfarçar e recordar as lágrimas que aquela Mãe soltava nos adeus comovidos quando o Rui partia para a Universidade de Coimbra ou já para o trabalho em Lisboa. As lágrimas das Mães são sempre verdadeiras e não passam com a idade dos filhos. Permanecem nesse cuidar que se quer sempre tanto.
Na semana passada recebi um email da escola alertando para casos de gastroentrite. Naturalmente que o Francisco vomitou toda a noite, confirmando o aviso. Prefiro mil vezes limpar ranhos do que vomitado (e as crianças têm cá um jeitinho e cuidado para não vomitarem camas inteiras, sofás e tapetes como um elefante dentro de uma loja Vista Alegre).
Entretanto ontem o Francisco cantarolava pela casa... não mi tóca.... não quero sábê.... não mi tóca!
Questionado sobre onde teria aprendido a música do Anselmo Ralph, responde todo contente que tinha espiado umas coleguinhas da escola a cantar a canção.
Estranho não ter recebido também um email sobre este vírus do Anselmo Ralph... é que a música primeiro estranha-se mas depois entranha-se e hoje passo o dia inteiro com a letra na cabeça e vontade de abanar a anca.
Ainda bem que só apanhei o vírus do Anselmo e não o da gastro (assim se mantenha).
A Avó fez anos ontem. Há dias que o Francisco insistia que queria oferecer um grande ramo de flores à Avó.
Este miúdo é um romântico... e imagino-o velhote a cantar assim como o refrão do Tony de Matos que é uma pérola dos nossos tesourinhos:
O Manel começou oficialmente a escola e o rapaz está a adaptar-se muito bem (apetece-me quase gritar!).
Ontem só ficou uma hora e pouco na escola, mas ficou sozinho, sem a Mãe galinha ao lado. Saí da escola a pensar que estavam ali os dois, finalmente juntos.
Hoje já ficou a almoçar e até dormiu a sesta (uma hora e meia, como se já andasse na escola há meses, imagine-se). Ando completamente colada ao telefone para o ir buscar em caso de urgência... mas está tudo a correr bem. Pode ser que o Manel finalmente entenda que existe todo um mundo de gente de batas diferentes das hospitalares a querer dar-lhe atenção.
Contive-me e ainda só liguei duas vezes, portanto eu também me estou a portar lindamente. De manhã soube que passado um tempo depois de ter brincado chorou um bocadinho, mas o Francisco foi chamado à sala do Manel e confortou-o com uns beijinhos.
Esta experiência também é importante para o Francisco. De manhã já não ficamos a dizer adeus ao Manel à porta de casa. Isto parece tão surreal e fantástico que na escola o Francisco perguntava aos amigos se queriam tocar no Manel como se fosse um tesouro. Por outro lado, imagino a cara de menino responsável que terá feito quando foi chamado para ir dar mimos ao mano na sala ao lado... ser mano mais velho devia dar direito a medalha de honra na escola!
Este amor e companheirismo de irmãos é tão importante. O mimo do Francisco não conforta apenas o Manel, sossega-me também o coração de Mãe em maior certeza que as crias ficam bem. Quando era pequena também me sentia segura com as minhas irmãs. Podia não perceber onde ia, mas se ia com elas então estava tudo certo e podia seguir tranquila e de mãos dadas.
O Francisco diz muitas vezes que quando for crescido quer ser tratador de golfinhos e Pai. Engraçado incluir a referência ao papel de Pai quando lhe perguntamos o que quer ser. Por agora pode estagiar as tarefas de mimo de Pai com o Manel, dando-lhe o seu colo pequeno, mas o maior que o Manel pode ter na escola.
As fotos são repetentes aqui no blog, mas não resisto a revisitá-las neste post.
Um fim-de-semana a dois, sem miúdos…. Planeado sempre com sentimento de culpa. Não valem a pena as teorias e as justificações que um casal deve apostar na relação e viver momentos a sós… só isso por si não serve de remédio para aliviar a culpa.
Sentimo-nos cansados, exaustos e a ideia de uns poucos dias aliviados de cuidados às crias são necessários, fundamentais para o sono, mas a culpa vai connosco, não nos livramos dela apesar das boas desculpas.
A despedida é feita num toca e foge para miúdos e graúdos não chorarem e não desistirmos logo ali dos planos de descanso.
No caminho tentamos rever todas as razões que nos conduzem para longe, para sedimentarmos que racionalizarmos o clima de romance à prova da consciência.
Depois são as conversas que inevitavelmente se debruçam nos miúdos. Vamos para longe para afinal passarmos grande parte do tempo a recordar as crias e a comentar as suas últimas gracinhas ou como adorariam estar ali para verem a medusa gigante que avistámos à beira mar ou o carrocel plantado no meio da rua e do qual desviamos o olhar para não encararmos as crianças dos outros. Confesso que me custa bastante olhar para crianças nestes dias em que estou longe das minhas. A saudade e sentimento de culpa aliam-se para esse avistamento ser penoso (o que é incrível porque olhar para uma criança é sempre normalmente divertido). Nestas circunstâncias, só tento olhar para as crianças se pressinto que vão apresentar uma birra fenomenal digna de se atirarem para o chão. Assim já vale a pena olhar para dar valor à distância.
Mas vamos também ser verdadeiros, e confessar que conseguimos nalguns minutos pensar no alívio de não termos horários para nos esparramarmos ao Sol e seguirmos os horários da fome e não do relógio para nos sentarmos à mesa. Estes minutos são estupidamente maravilhosos e é nesse momento que conseguimos dar um bofetão à culpa. Conseguir jantar à luz das velas sem ter medo que alguém se queime ou pegue fogo à mesa é estranhamente calmo. Uma sessão de massagens no SPA pode ser tão relaxante que um de nós até ressonou (não vou dizer se foi o Maridão senão era chato!).
No entanto, as horas de descanso passam com inúmeras trocas mensagens para atestar se crias comeram, se estão felizes ou com birras e se finalmente adormeceram. Mesmo que se receba a confirmação que está tudo bem, nestes dias o telemóvel é vigiado e consultado não apenas para confirmar mensagens e telefonemas, mas também para rever vezes sem conta as fotografias e vídeos das crias que me ocupam espaço do cartão e da minha memória.
Nunca tinha passado 3 noites sem as crias, foi um record batido em desespero de tantas noites sem dormir nos últimos 2 anos. Mas confesso que na última noite já soltava lágrimas de soluços e saudades só por falar das crias num jantar de amigos. Uma vergonha! Sou assumidamente uma Mãe galinha. Não me ponho aqui a apontar o dedo aos que se libertam e voam para outros Continentes e não choram, por isso aqui me confesso e não me apontem o dedo… mas se quiserem chamar-me Mãe galinha estejam à vontade. Piu! Cada um sabe de si e eu sou uma Mãe galinha com fraca apetência para golpes de capoeira na consciência. O regresso é uma maravilha! Se antes de ter filhos tudo sabia tão bem e no final até apetecia fazer birra no check out (sem pesos de consciência mas sem grande valor quanto ao descanso), com filhos no horizonte do regresso tudo é feito a despachar para finalmente chegarmos a casa e apertá-los de mimos e dizer-lhes que os adoramos e estamos prontos e frescos para mais birras e noites mal dormidas!
Parabéns meu Manel
Nesta data mais querida
Conta sempre com o meu colo
O nosso abraço de paz
Os beijinhos mais doces
Para te protegerem sempre
E nos guardarem juntos felizes
Por muitos e muitos anos de vida
Hoje é dia de festa
Cantamos todos para ti
Para te fazermos mais feliz
Obrigada por me teres escolhido
Por ter a honra de ser a tua Mãe
E ter crescido contigo
Mais do que alguma vez já tinha crescido com alguém
E termos passado juntos em 2 anos
Tudo o que eu pensava não conseguir
Mas juntos temos as forças mais especiais
Daquele amor tão puro e grande de Mãe e filho que só nós podemos ter.
E eu tenho-te a ti comigo e hoje celebro contigo a nossa vida
Com tantos milagres vencidos que nos fazem cantar mais alto
Parabéns!!
Fotos do Manel - Babyart pela minha querida Raquel Brinca da HUG
Naquelas noites em que a cabeça se deita mas continua a girar enquanto todos os outros dormem descansados.
Penso na primeira festa de anos do Manel. São dois anos mas é o primeiro ano com direito a festa.
Recordo a angústia do ano passado. Da falta de ar do Manel e da minha que ao seu lado constatava que ficaríamos presos no Hospital sem alta para cantarmos os parabéns em família. Podiam ter sido mais uns banais dias de internamento, apenas mais uns a somar a outros tantos. Mas a injustiça de nos sentirmos privados da alegria fez-me temer o futuro. Tinhas nascido e o Natal não teve festa. O teu aniversário, por infeliz coincidência, também não tinha festa e assim tudo parecia ser demais.
O Francisco há tempos dizia que este seria o teu primeiro aniversário. Recordei-lhe então que agora completas 2 anos e não 1. Sem dramas o Francisco encolheu os ombros e disse que então tínhamos de organizar um festão.
Agora penso na sorte de não estarmos no hospital. Apesar de tudo até voámos este mês. Mas há alguma preocupação que não desvanece, não se apaga e de vez em quando dói-me mais do que noutros dias.
Em vez de dormir fico a imaginar o teu bolo. Fico perdida por não me explicares qual é o teu boneco preferido e lamento a falta de noção (minha e tua, talvez mais minha por me importar com o que não importa). Depois afundo-me a recordar as palavras secas daquela Mãe que nos viu no parque. Perante a tua dificuldade em subir as escadas, mesmo apoiado em mim, aquela Mãe questiona-me afinal que idade tens tu... com um espanto desagradado de ver um bebé tão grande e com tão pouco equilíbrio e noção. Só lhe respondi que tinhas 1 ano. Não me apeteceu explicar mais nada a quem não tem noção nem parece querer ter. Há gente que julga ter os filhos mais desenvolvidos do mundo e nem filtra impertinentes juízos de desenvolvimento dos outros. Magoou-me. A ti não, felizmente. O Francisco também não percebeu.
Confesso que me canso. Não me canso só de explicar a doença. Fisicamente és um desafio que eu tento superar. São 14 kilos que amparo na minha estatura pequena. Gostava de ser mais forte que um gigante para te colocar muitas vezes no topo do escorrega e te amparar na descida com toda a segurança. Brincar consegue ser um desafio para ambos. No final fico tão cansada como tu. Há dias que fico triste por não ter sido mais forte, não ser capaz de mais.
Amanhã já vou dormir melhor, já me conheço nestas fases. Vais gostar do bolo porque vou enchê-lo de smarties. Assim pode chamar-te mais a atenção pelas cores e com 2 anos será a tua estreia oficial no chocolate. Animo-me a pensar que gostas de bater palminhas quando cantamos os parabéns. Desta vez são os teus anos e eu não vou chorar como no ano passado. Vou cantar o mais alto que puder e vamos cantar muitas vezes. Até na escola com os novos amigos e o Francisco e a Inês. Depois em casa, finalmente em casa, numa festa caseirinha para te sentires protegido e mimado por todos. Pequena mas grande festa. Não sei se saberás que a festa é tua e por ti mas quero que sintas que te amamos loucamente. Se por vezes não dormimos é porque há dias em que nos desgastamos em fraquezas e gastamos os minutos a tentar antecipar um futuro que queremos seja feliz, custe o que custar.
Este ano será mais feliz. Perdoa-me as fraquezas de alguns momentos e obrigada pelos teus abraços que são tão puros e os mais sentidos de todos. Falas-me muito nesses abraços e através deles ganho coragem para escutar tudo o que me dizes nesses braços agarrados a mim.
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