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Esta semana o Francisco diz-me do nada:
- Mãe tenho uma vida feliz!
Fiquei extasiada pensando como eu era uma excelente Mãe, contribuindo decerto para aquela felicidade toda, pelo que neste ronron de reacção disse apenas:
- Ai sim Francisco?
Num segundo oiço:
- Sim Mãe, porque aqui não temos tubarões.
Ora, então não se estava mesmo a adivinhar que o rapaz tem uma vida feliz porque está a salvo dos tubarões? Tão simples quanto isto!
O Francisco deixa-me todos os dias assim sorridente, porque o rapaz tem graça e energia concentrada numa fórmula do “pequeno poderoso” que funciona em mim como um motor de arranque para a gargalhada, para o mimo, para o fingir sempre que está tudo bem e retribuir esta vida imensa e tão simples.
Depois de descobrir a doença rara do Manel, temi muito não ser capaz de repartir por igual este amor pelos dois. Acontece que o amor pelos dois se tem naturalmente equilibrado, porque se pelo Manel é tão simples este amar que se basta no olhar, no abraçar, naquele cheirinho de bebe que mordisco num pé gordinho, sem ainda receber palavras em troca; no Francisco este amar também flui na mesma simplicidade e agora também na admiração de o ver mimar o mano e o proteger como dele.
A admiração alimenta-nos este gostar e eu tenho o maior orgulho do Francisco. Não faz caso se o Manel tem uma enorme cicatriz na cabeça, não se irrita se o Manel ainda não anda (só se lhe rasga a caderneta dos cromos), é um amor paciente e que cuida. O Francisco já começa a saber quando o Manel está no Hospital e consegue ultrapassar estes momentos sem ciúmes, sem dramas, sem cobrar, enviando até brinquedos para o Manel como quem manda uma encomenda de alta prioridade. Noto que quando estamos todos juntos, o Francisco também dá mais valor. Nestas férias de Verão andava feliz (não só por não termos avistado tubarões no Algarve), mas porque pudemos ficar juntos gozando o Sol, esquecendo o resto, fazendo vida de gente normal como há muito tempo não tínhamos direito.
Tenho imensa pena que o Francisco esteja agora novamente de quarentena, sem ir à escola para prevenir qualquer infecção ao Manel (que será operado daqui a duas semanas) e assim sofra indirectamente estes danos colaterais da doença do mano. Mas não se queixa e vai enchendo os dias do Manel aqui em casa com tanta alegria (tentando transformar a casa numa tenda circense). Mas sei que quando o Francisco crescer vai compreender e terá um coração ainda mais doce por tão cedo ter começado a dar tanto de si.
Tenho a maior sorte do mundo por ter o Francisco, que me liga à terra quando tenho medo e me deixo escapar por pensamentos ansiosos do futuro, que me faz rir com as suas graças e palavras caras, me abraça quando chego do trabalho ou do hospital sempre com aquela alegria e surpresa de quem parece não me ver há semanas!
Nesta fase dos quatro anos, corre para a porta quando ouve a campainha, diz vezes sem conta que sou linda, pede colo, corre, abraça, goza-me e eu deleito-me nesta simplicidade com uma vontade doida de o congelar e não o deixar crescer muito mais para o sentir sempre tão meu.
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